A Evolução da Higiene das Mãos
11-04-2018A
higiene sempre foi fundamental para a sobrevivência. Desde as
civilizações antigas até os dias atuais desempenha um papel vital na
prevenção da disseminação de infecções e doenças. No mundo moderno, a
higiene ainda é um fator importante de saúde e bem-estar. No entanto, em
muitas situações, o maior risco é a complacência.
Um
ambiente cada vez mais limpo, longe da natureza, o desenvolvimento de
vacinas contra uma ampla gama de agentes patogênicos mais perigosos e
uma dependência excessiva dos antibióticos deixou as pessoas em uma zona
de conforto quando se trata de lidar com as infecções. Em muitos casos,
doenças que poderiam ser fatais foram reduzidas a um leve desconforto.
No entanto, menos de 100 anos após a sua introdução, a resistência
antimicrobiana (RAM) ameaça cada vez mais tornar a maioria de nossos
medicamentos ineficazes no tratamento de doenças infecciosas.
Levamos
milhares de anos para desenvolver nossos conhecimentos sobre como
prevenir as infecções, e os perigos potenciais da RAM destacam a
necessidade de lembrar os períodos ao longo da história, quando a
higiene podia fazer a diferença entre a vida e a morte.
Como a higiene das mãos moldou a história
Para
melhor ilustrar a necessidade da sociedade de manter o foco na higiene
das mãos, aqui estão três fases de higiene das mãos que mudaram o mundo e
salvaram vidas:
1. Quando a higiene tornou-se parte da religião
De
acordo com suas escrituras, praticamente todas as religiões do mundo,
em algum momento, fizeram uma ligação clara entre limpeza e pureza
espiritual.[1]
A ablução em águas limpas antes de prestar homenagem aos deuses ou divindades tornou-se parte do cerimonial de toda religião[2]
- e os líderes religiosos incentivando os seguidores a se banharem é o
primeiro exemplo de práticas de higiene sistemáticas em ação.
A adesão à prática de higiene religiosa poderia - literalmente - salvar sua vida.
2. Quando a higiene das mãos tornou-se uma ciência
Em
1546, o médico Girolamo Fracastoro divulgou a idéia revolucionária de
que a infecção poderia ser transmitida não apenas diretamente de pessoa
para pessoa, mas também através de mãos e superfícies, como roupas e
mãos.[3] Infelizmente, isso seria ignorado por séculos.
Avançando para o século 19, no entanto, os cientistas com base nos trabalhos de Fracastoro desenvolveram a "teoria dos germes"[4]
– identificando os microorganismos como sendo a causa de muitas
doenças. Isso deu início a uma mudança total no controle das doenças -
levando à criação de práticas modernas de higiene para impedir a
propagação de bactérias.
A Teoria dos Germes e as práticas de higiene que ela inspirou são elementos fundamentais de higiene na sociedade moderna.
3. Quando a higiene das mãos tornou-se simples
Entender
como as doenças funcionam não apenas tornou mais fácil seu tratamento -
mas também estimulou o desenvolvimento de formas voltadas/direcionadas
para impedir a sua propagação, através do uso da síntese química.
Assim,
há mais de 2.000 anos, quando o sabão e a água eram os únicos produtos
de higiene, o século XX viu a introdução de produtos de limpeza e
desinfetantes elaborados especificamente para reduzir a quantidade de
micróbios transportados pela pele - em particular pela pele das mãos.
Embora
essas inovações tenham transformado a saúde e o bem-estar ao longo do
século XX, não podemos esquecer as lições do passado - a mais importante
das quais é que a higiene consiste, antes de mais nada, em
comportamentos práticos. Os produtos mais modernos não funcionarão a
menos que nos lembremos de usá-los!
Porque a higiene é vital no mundo de hoje (e de amanhã)
A
história da higiene tem sido construída por uma constante melhoria e
evolução, e uma grande parte disso veio da compreensão de como é vital
manter a saúde. No entanto, ainda há grandes desafios que precisam ser
superados para evitar futuros surtos de doenças.
Um
dos maiores desafios é a pesquisa recente, que mostra cada vez mais que
a microbiota que está em nosso corpo é vital para nossa saúde. Isso tem
implicações importantes para o desenvolvimento futuro da higiene.
Significa que precisamos encontrar maneiras de maximizar a proteção
contra a exposição àqueles micróbios que são prejudiciais, mantendo, ao
mesmo tempo, a exposição aos micróbios que são úteis. [5]
Se indivíduos e organizações não ajustarem seu comportamento em torno de práticas recomendadas,
o número de indivíduos que sofrem com infecções e doenças aumentará
rapidamente. Isso é especialmente importante nos ambientes de cuidados
da saúde, onde os impactos de infecções associadas a esses cuidados
incluem hospitalização prolongada, desfechos fatais, maior número de
casos de incapacidade a longo prazo, aumento da resistência dos
microorganismos a agentes antimicrobianos e encargos financeiros
adicionais para os sistemas de saúde [ 6]
Na
Europa, as Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) são a
causa de 16 milhões de dias extras de internação e 110.000 mortes a cada
ano.[6] Nos EUA, aproximadamente 75.000 mortes foram atribuídas às IACS em 2011.[7]. Na Inglaterra, 5.000 pacientes por ano contraem uma IACS fatal.[8] No Canadá aproximadamente 8.000 mortes por ano são atribuídas às IACS.[9]
O tamanho do ônus econômico global e os índices de fatalidade
relacionados com as IACS são desconhecidos, mas, por meio da
implementação de estratégias e medidas de prevenção, seu impacto poderia
ser reduzido consideravelmente.
Os
números podem ser pequenos quando comparados com o histórico, mas
mostram que a higiene das mãos ainda é muito importante para uma boa
saúde. Empresas de todo o mundo devem adotar procedimentos eficazes para
higiene das mãos - fornecendo os produtos certos nos lugares certos,
monitorando a conformidade e treinando os indivíduos sobre como podem
romper a cadeia de infecção.
[1] https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2542893/
[2] https://page-one.live.cf.public.springer.com/pdf/preview/10.1007/978-3-642-39188-0_33
[3] Fracastoro, Girolamo (1546). On Contagion, Contagious Diseases and Their Cure
[4] https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2542893/
[5] Bloomfield SF, Rook GAW, Scott EA, Shanahan F, Stanwell-Smith R,
Turner P. Time to abandon the hygiene hypothesis: New perspectives on
allergic disease, the human microbiome, infectious disease prevention
and the role of targeted hygiene Perspect Public Heal. 2016;136(4):213–
224
[6] Health at a Glance: Europe 2016 - State of Health in the EU Cycle
[7] CDC HAI Data and Statistics - https://www.cdc.gov/hai/surveillance/index.html
[8] House of Commons Committee of Public Accounts – Twenty-fourth Report
2004-05: Improving patient care by reducing the risks of hospital
acquired infection: A progress report.
[9] The Chief Public Health Officer's Report on the State of Public Health in Canada 2013 – Healthcare-associated infections – Due diligence